quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Dolly: um sonho que durou pouco.

Em 1996, a humanidade se viu perplexa diante do anúncio feito pelo escocês Ian Wilmut, do Instituto Roslin, de Edimburgo, do nascimento do primeiro clone de um mamífero: a ovelha Dolly.

Dolly nasceu de uma elegante ousadia de Wilmut. Ele primeiro retirou células mamárias de uma ovelha da raça Finn Dorset, deixou-as em meio com baixa concentração de nutrientes, dessa forma as células pararam de sofrer mitose e foi possível a retirada do núcleo. Esse núcleo foi implantado em um óvulo anuclear de uma ovelha da raça Scottish Blackface, isso foi possível graças ao processo de eletrofusão. Para surpreender ainda mais a comunidade científica, Wilmut decidiu implantar o blastocisto formado a partir do óvulo, embrião com aproximadamente 100 células, em outra ovelha. Sendo que esta era da mesma raça da doadora do óvulo. Meses depois, para a surpresa de muitos, nasce Dolly, uma ovelha da raça Finn Dorset oriunda do ventre de uma ovelha Scottish Blackface. Isso, por si só, já constituía uma boa evidência para a veracidade do procedimento. Mais tarde, por meio de evidências genéticas, foi possível comprovar o feito.
Nem tudo, porém, foi tão elegante. Dolly não era exatamente idêntica à ovelha que lhe forneceu o material genético. Na medida em que ela também herdou DNA, advindo das mitocôndrias, da doadora do óvulo. Dolly também tinha artrite no quadril e no joelho da pata traseira esquerda. Devido a essa série de problemas, a mais extraordinária criatura concebida fora da natureza teve de ser sacrificada. O quadro de enfermidades apresentado por Dolly é mais comum em ovelhas com idade mais avançada. Surgiu então um grande senão, porque Dolly uma ovelha de tão pouca idade já apresentava características típicas da velhice? Novamente os telômeros surgem como boa alternativa de explicação. Acredita-se que esse envelhecimento precoce tenha ocorrido por Dolly ter recebido material genético de uma ovelha com seis anos de idade, consequentemente com sequências teloméricas mais curtas que o normal, intensificando os mecanismos de envelhecimento, pois é sabido que em grande parte das células somáticas, e a célula mamária é um exemplo, não se encontra a enzima telomerase responsável por impedir o encurtamento dos cromossomos.
A perda das sequências teloméricas, já é hoje bem aceita pelos cientistas como um dos fatores que acarreta o envelhecimento. O caso de Dolly, além de intrigante pela sua própria essência, forneceu um excelente exemplo daquilo que o britânico Jack Szostak havia comprovado um dia: O envelhecimento e os telômeros estão realmente inter-relacionados.

Postado por: Deyne Morais
Referências: Revista Ciência Hoje n 137

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