Não é de hoje que a presença das vovós vem superando em número a dos vovôs. Além de ser notável a superioridade numérica delas, estudos e dados estatísticos confirmam: as mulheres vivem mais do que os homens.
A partir dos 50 anos, quanto mais se avança na pirâmide etária, maior é a presença delas. De cada dez pessoas com 100 anos ou mais, oito são mulheres. No total, as centenárias somam cerca de 200 000 em todo o mundo, e a conta sobe mais aceleradamente do que entre os homens. Alguns estudos recentes apontam que a longevidade feminina não é explicável apenas pelo fato delas se cuidarem bem mais do que os homens.
Sabe-se que com o avanço da idade é natural que a resposta imune perca a eficácia. Investigando isto, pesquisadores da Imperial College School of Medicine, em Londres, publicaram um estudo mostrando que o processo de degeneração do sistema de defesa do organismo, decorrente do envelhecimento, afeta menos as mulheres. Este trabalho publicado na revista especializada Clinical & Experimental Immunology, sinalizou que, entre 20 e 62 anos, o declínio da função imunológica é 30% menor entre as mulheres, o que explica a maior facilidade de se recuperarem de infecções.
Os benefícios proporcionados por um sistema imunológico mais eficiente vão além do ataque mais intenso aos vírus e às bactérias. Pesquisas recentes da epidemiologia do curso de vida, uma área relativamente nova da medicina, indicaram que o surgimento de doenças infecciosas na infância pode favorecer a ocorrência de distúrbios crônico-degenerativos na vida adulta. A hipótese mais aceita é de que as infecções, mesmo quando curadas, deixam para trás pequenos processos inflamatórios. Isso significa que, por exemplo, depois de uma inflamação qualquer, focos imperceptíveis de inflamação podem restar e, a longo prazo, podem migrar para outras partes do corpo — o que favorece o desenvolvimento de outras doenças. Tais resquícios de inflamação estão diretamente ligados ao processo de envelhecimento, pois podem propiciar a liberação de radicais livres e outras moléculas tóxicas.
Mas como alguém conseguiu identificar essa relação entre doenças na infância, consequências no futuro? E como isso pode explicar o fato de a longevidade feminina ser superior à masculina? Aí vem uma interpretação muito sutil e elegante. Um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, comparou os dados da mortalidade no primeiro ano de vida com os da mortalidade aos 70 anos em alguns países da Europa. Os dados avaliados são dos séculos XVIII e XIX, época em que os principais problemas de saúde eram doenças infecciosas. Os autores do trabalho constataram que o grupo de idosos com maior taxa de mortalidade por males crônicos, havia se exposto mais às infecções na infância. E mais, é sabido que as meninas são muito mais resistentes a infecções ao longo do primeiro ano de vida, então, pode-se perceber que devido à menor resistência dos meninos, a chance de adquirirem resíduos inflamatórios no início da vida é muito alta, portanto, os homens têm mais chance de apresentarem distúrbios no fim da vida. Podem estar lançadas aí as bases de uma existência mais longa.
Veja agora algumas vantagens biológicas das mulheres na corrida da longevidade:
· Hormônios: as mulheres estão, durante a maior parte de suas vidas, protegidas pelo hormônio estrógeno (uma barreira contra doenças cardiovasculares, por exemplo);
· Sistema imunológico: a degeneração do sistema imunológico, inevitável ao passar dos anos, ocorre mais lentamente nas mulheres;
· Genética: existem pelo menos 1000 doenças associadas ao cromossomo X e como o homem possui apenas um exemplar deste, uma possível doença invariavelmente se manifestará o que não ocorre com as mulheres, já que elas possuem dois exemplares, podendo um neutralizar a imperfeição do outro.
ACALMEM-SE HOMENS!
Não custa lembrar que numa vida saudável, 75% cabem ao estilo de vida e apenas 25% determinados pela biologia.
O que podemos aprender com elas em relação à:
· Bebida: embora nas últimas décadas as mulheres venham bebendo cada vez mais, o número de homens brasileiros que abusam do álcool é ainda o triplo do de mulheres com o mesmo hábito;
· Cigarro: o número de homens fumantes é quatro vezes o de mulheres que fumam, na média mundial. Não é preciso nem falar os malefícios do cigarro...;
· Alimentação: 45,5% dos brasileiros abusam de carnes gordurosas contra 26% das mulheres, 21% das mulheres consomem cinco porções diárias de frutas e hortaliças contra 14% dos homens, fica evidente que a dieta feminina é mais saudável do que a masculina;
· Stress: as mulheres falam demais! Isso contribui para o tratamento da depressão e de outros transtornos mentais, prova disso é o índice de suicídio entre os homens: o triplo do registrado entre elas;
· Ajuda médica: essa é interessante, ao sentirem os mesmos sintomas, as mulheres procuram um médico um mês antes do que os homens e sabemos que quanto mais precocemente uma doença é descoberta, maiores são as chances de cura;
· Adesão aos tratamentos: além de diagnosticarem seus problemas mais cedo, as mulheres aderem melhor às terapias recomendadas por seus médicos, os machões suspendem o tratamento assim que começam a se sentir melhor.
As descobertas sobre as características biológicas femininas relacionadas ao envelhecimento abrem novas frentes de pesquisa para ajudar os homens a viver mais e melhor.
· Anti-inflamatórios mais precisos: almeja-se desenvolver anti-inflamatórios que possam ser tomados durante toda a vida com isso pode-se combater as microinflamações associadas ao envelhecimento, sem os inconvenientes efeitos colaterais. Nenhum anti-inflamatório existente hoje pode ser tomado por períodos muito longos, sob pena de causar danos graves ao organismo, como nefrites e úlceras.
· Cápsulas de resveratrol: você com certeza já ouviu falar dos benefícios dos vinhos tintos. Pois resveratrol é uma das maravilhas dessa bebida, pois possui propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. A produção de resveratrol em laboratório é uma das grandes esperanças no combate ao envelhecimento. Pesquisas com animais mostraram que aplicações regulares de resveratrol combatem os radicais livres. De teste com animais para humanos é um passo...
Alimentar-se de forma equilibrada, não fumar e beber com moderação aumenta a expectativa de vida em onze anos segundo cálculos de médicos da Universidade de Cambridge. Fazer das visitas ao médico um hábito preventivo, e não emergencial, também é algo que os homens podem aprender com as mulheres.
É isso aí homens, aprendamos mais com esses seres maravilhosos!
Até breve!
Postado por: Leandro Villela Biazon
Referências bibliográficas:
Revista VEJA, edição 2190 – ano 43 – nº 45
10 de novembro de 2010, páginas 150 a 156.