No ano de 2009, Elizabeth H. Blackburn, Jack W. Szostak e Carol W. Greider foram laureados com o prêmio Nobel de fisiologia e medicina.
Mas por que o vanglorioso Instituto Karolinska localizado em Estocolmo premiou esses três pesquisadores? Simples, esses nobres cientistas foram responsáveis pela resolução de um enigma que se arrastava há décadas sem ser solucionado: O problema da replicação das pontas do DNA. Graças ao incessante estudo realizado por eles, hoje sabemos o mecanismo utilizado pelas células para impedir o encurtamento dos cromossomos. Até bem pouco tempo, um bom geneticista molecular seria incapaz de responder o seguinte questionamento feito por qualquer um que se aventurasse nas pesquisas de genética molecular: se todas as sequências de DNA antes de serem replicadas precisam de um iniciador (primer), que se ligará à fita que deve ser copiada e a DNA polimerase só agirá do primer para baixo, como a sequência em que está inserida o primer vai ser replicada? Resposta: a enzima telomerase catalisará a formação dessa sequência inicialmente não replicada.
Em 1975 Elizabeth Blackburn começou a trabalhar com as recém-descobertas, e promissoras, sequências repetitivas de DNA terminal na Universidade de Yale, Connecticut, Estados Unidos. Ela rapidamente descobriu a sequência de nucleotídeos que se repetia nas extremidades dos cromossomos, essa sequência era um hexanucleotídeo CCCCAA (quatro citosinas e duas adeninas). Coincidentemente na mesma época Jack Szostak, um pesquisador que acabara de se estabelecer em Harvard, Massachusetts, Estados Unidos, iniciava seus estudos com as extremidades de cromossomos. Ele descobriu que a adição de terminações de plasmídeos de uma bactéria a uma célula fúngica produziria diferentes rearranjos e interações entre as moléculas de DNA impedindo a manutenção da vitalidade da célula fúngica. Esses dois cientistas resolveram reunir esforços, e as ciências biológicas hoje agradecem muito por isso, e ver o que aconteceria com a adição do hexanucleotídeo aos fragmentos de plasmídeos, o resultado foi exatamente o esperado por eles, a sequência CCCCAA conseguiu estabilizar as terminações do plasmídeo. Esse brilhante experimento permitiu a conclusão de que as sequências CCCCAA eram realmente os telômeros, porém ainda não se sabia como eles se replicavam.
O destino resolveu dar outra mãozinha a Elizabeth Blackburn, uma eficiente aluna de doutorado, orientada por Blackburn, Carol Greider, conseguiu solucionar o problema. Ela adicionou a sequência complementar do hexanucleotídeo CCCCAA, ou seja, TTGGGG e observou que uma enzima catalisava esse processo. A enzima era um complexo de ribonucleoproteínas que elas denominaram de telomerase.
A descoberta de Blackburn e Greider permitiu a conclusão de que a telomerase era um tipo único de transcriptase reversa, que associava um componente catalítico proteico a uma fita de RNA, permitindo a formação da cadeia complementar. Resumindo a solução do problema de replicação estava esclarecida. Já a descoberta de Szostak confirmou o que há muito tempo se desconfiava, a perda de sequências teloméricas está associada ao limite replicativo das células e consequentemente a senescência celular.
Hoje não se tem mais dúvida de que o encurtamento dos telômeros está relacionado ao envelhecimento, porém é necessário fazer ponderações. O envelhecimento é um mecanismo muito mais complexo, na medida em que não envolve apenas um fenômeno. Existem vários mecanismos genéticos que estão relacionados ao envelhecimento, o encurtamento dos telômeros é só mais um. Os telômeros também não estão apenas relacionados ao envelhecimento, existem várias pesquisas com telômeros procurando esclarecer os mecanismos responsáveis pelo câncer.
A ciência, assim como as artes, a política, demora um pouco para reconhecer seus heróis. As eminentes pesquisas feitas por Blackburn, Greider e Szostak possibilitaram novas perspectivas em relação ao estudo do envelhecimento e do câncer. Quem sabe algum dia novos heróis surjam e embasados nas pesquisas mencionadas neste texto, possam nos dar mais clareza sobre os problemas tão típicos da velhice ou talvez até descubram a cura do câncer.
Postado por Deyne MoraisReferências: Revista HCPA Vol. 29, n° 3 (2009)
O que eu entendi do texto, a enzima telomerase mantem o telômero esticado. A medida que vamos envelhecendo o telômero vai encurtando.
ResponderExcluirO que eu entendi do texto, a enzima telomerase mantem o telômero esticado. A medida que vamos envelhecendo o telômero vai encurtando.
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